Por Michele de Mello. Resumen Latinoamericano, 2 de diciembre de 2020.
El ministro venezolano sugirió que el brasileño se tome un calmante, pidió tolerancia y desafió al militar a un debate.
Durante la reunión extraordinaria de ministros de los Estados iberoamericanos, celebrada el pasado lunes 30, de manera virtual, el canciller Ernesto Araújo del gobierno de Bolsonaro utilizó toda su intervención para acusar a Venezuela de ser una dictadura, además de rechazar la presencia de representantes del gobierno de Nicolás Maduro en el espacio. En respuesta, el ministro venezolano, Jorge Arreza, sugirió que el ministro brasileño se tome una infusión para calmarse.
«Quería recomendarle una receta al canciller de Brasil. El comandante Fidel Castro estudió mucho la moringa, una planta extraordinaria, con propiedades curativas y también tranquilizantes», dijo. “Quiero recomendarle un té de moringa, con un poco de valeriana. Verás cómo se abre el espacio a la tolerancia ideológica, para que incluso podamos debatir”, dijo.
«Incluso podemos debatir usted y yo. Lo desafío. Moringa, nos sentamos, hablamos de democracia, derechos humanos, Amazonia, cambio climático, geopolítica», dijo el ministro venezolano.
La Conferencia Iberoamericana reunió a los 22 países de América Latina y la Península Ibérica. El evento, que declaró la necesidad de crear un fondo de emergencia contra el covid-19, es una actividad previa a la cumbre anual, que se celebrará en abril de 2021 en Andorra.
En su discurso, Ernesto Araújo insistió en que Venezuela vive una «tragedia múltiple», expresada en una crisis económica, política, social, humanitaria y de valores. Lamentó la ausencia de representantes del autoproclamado presidente Juan Guaidó y también sugirió que el gobierno brasileño podría romper con la organización.
“La presencia del régimen de Maduro en esta sala, erosiona los pilares fundamentales de esta comunidad, el sentimiento de pertenencia y el deseo de estar juntos”, declaró Araújo.
Como en otras ocasiones, el canciller brasileño acusó, sin pruebas, al gobierno de Nicolás de Maduro de ser cómplice de las estructuras internacionales del narcotráfico y del crimen organizado.
Como únicas propuestas para la Conferencia Iberoamericana, señaló la creación de estructuras para combatir el narcotráfico y otro tipo de delitos internacionales, la creación de mecanismos para medir el nivel de libertad y democracia en los países, así como la emisión de sanciones contra países. que rompen con el estado de derecho democrático.
«Hay una fuerte expectativa por parte de Brasil de que los demás países de esta conferencia podrán trabajar con nosotros para la restauración de la democracia en Venezuela», concluyó el ministro brasileño.
Hablando después de Araújo, todavía en tono de broma, al final de su declaración, el canciller Arreaza envió un mensaje al cuerpo diplomático brasileño. «Sé que usted en la resistencia, que se avergüenza de los dichos y la posición de su canciller. Pero tenga la seguridad. Esto es temporal y, al final, ningún gobierno, ningún canciller puede vencer la excelencia de lo que representa Itamaraty. Al final, estos años serán sólo un mal recuerdo y nada más ”, declaró.
Las declaraciones del canciller Ernesto Araújo están en línea con lo que analistas ya señalaron como posibles estrategias de la oposición venezolana y sus aliados internacionales para atacar al gobierno bolivariano.
Las supuestas acusaciones de crisis humanitaria generalizada, sumadas a la reproducción del discurso de «narcoterrorismo» emitido por el presidente de Estados Unidos, Donald Trump, serían las justificaciones para activar el mecanismo de Responsabilidad de Proteger (R2P) contra Venezuela.
El compromiso de R2P tiene tres pilares: 1) La responsabilidad de cada Estado de proteger a sus poblaciones; 2) La responsabilidad de la comunidad internacional de ayudar a los Estados a proteger su nación; 3) Responsabilidad de la comunidad internacional de proteger a una población de las acciones de un Estado. El último pilar se utilizaría como justificación para intervenir en Venezuela.
El próximo domingo, más de 20,7 millones de venezolanos están convocados para elegir a los 277 diputados que formarán la nueva Asamblea Nacional. Juan Guaidó declaró que no participará en el proceso y pidió una consulta nacional para el 12 de diciembre, con el fin de cuestionar si los venezolanos quieren un cambio de gobierno.
A pesar de que la figura jurídica del referéndum revocatorio está prevista en la Constitución venezolana, la oposición se sustenta en un mecanismo sin previsión legal alguna.
Este es el discurso completo del canciller brasileño Ernesto Araújo:
«Nossos irmãos venezuelanos padecem desde há muito, os efeitos de uma tragédia múltipla, imposta por um regime ilegítimo e ditatorial. Uma crise econômica, política e social, uma crise humanitária e,sobretudo, uma crise de valores.
Temos que nos unir, concordo com o querido amigo, chanceler da Argentina, Felipe Solá. Mas unir-nos em quê? Segundo quais valores? Vamos nos unir simplesmente em torno de um nome, de uma situação geográfica? Não. Precisamos nos unir em torno da democracia, da liberdade, do Estado de direito e da dignidade humana antes de tudo. Não podemos ter vergonha de falar em democracia, em liberdade.
Concordo com a ministra Arantxa González, da Espanha: ‘democracia e Estado de direito não são opcionais’. O simples fato de situar-se geograficamente no espaço ibero-ameircano não dá o direito automático a representantes de ditaduras sentarem ao lado de representantes de nações livres.
A Conferência Ibero-americana tem nos seus pilares a defesa da democracia, o respeito à liberdade e vigência do Estado de direto, além da promoção da prosperidade e da igualdade de oportunidades para todos. Por isso não podemos nos calar diante da tragédia venezuelana.
Essa conferência é uma etapa rumo à Cúpula Ibero-americana, prevista para abril de 2021, o governo brasileiro entende que esta conferência necessita rumar para a defesa permanente e intransigente da liberdade e da democracia.
O Brasil é um dos fundadores desse foro e nunca abandonou aqueles valores que mencionei, que alicerçam a congregação dos países ibero-americanos. Nosso engajamento é permanente pela democracia e liberdade. Não é simplesmente um exercício individual, tem que ser coletivo e esse engajamento está ainda mais fortalecido durante o governo do presidente Jair Bolsonaro.
Justamente pelo inerente sentimento de solidariedade e irmandande ibero-americana, o governo brasileiro manifesta seu repúdio da presença, nessa reunião, de representantes do regime ilegítimo de Nicolás Maduro.
Lamento que não haja representantes do governo legítimo de Juan Guaidó, que muitos, senão a maioria de nós aqui representados reconhecemos.
Por que razão o princípio de união deve dar-se em torno da ditadura e não da democracia é algo que não compreendo.
Não podemos esconder nossa cabeça na areia, temos que trabalhar pela democracia na nossa região e é isso que queremos fazer aqui. O Brasil consdidera que a Conferência Ibero-americana é um espaço essencial para a democracia.
A presença do regime madurista nesta sala corrói os pilares fundamentais dessa comunidade, o sentimento de pertencimento e a vontade de estar juntos. Essa presença é lamentável, mas também expõe fraturas que abrem oportunidade para mobilizar os membros dessa conferência no sentido da valorização e relançamento do Foro como espaço real de democracia e liberdade, com plena vigência do Estado de direito e a promoção da prosperidade e igualdade de oportunidades para todos os nossos cidadãos.
Lembro que dois dos mais importantes foros interamericanos: a Organização do Estados Americanos (OEA) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) já têm como representantes os membros do governo legítimo de Juan Guaidó, governo que honra o nome da Venezuela.
Este instrumento Ibero-americano não deveria estar atrás dos instrumentos pan-americanos? Somos igualmente democráticas os dois e deveríamos ser.
Lembro que a Venezuela foi suspensa do Mercosul em 2017, por flagrante ruptura da ordem democrática, quando o fechamento da Assembleia Nacional pelo regime ditatorial de Maduro.
O Brasil ressalta que a democracia não é uma opção política para os membros do protocolo de Ushuaia, trata-se de uma obrigação do direito internacional.
Falando em Mercosul, no dia de hoje, celebramos numa conferência entre os presidentes Bolsonaro e Alberto Fernández, os 35 anos da ata de Iguaçú que deu início à integração Brasil – Argentina e posteriormente ao Mercosul. Essa coincidência de data e a rememoração daquele fato mostra que a integração econômica que vivemos hoje no Mercosul, um dos pilares da integração latino-americana, baseou-se, antes de tudo, na democracia. Vivíamos o início do período de redemocratização nos Brasil e na Argentina.
Hoje no acordo de cooperação Mercosul e União Europeia, que pretendemos assinar, também temos um instrumentos de respeito à democracia e aos valores antes da relação comercial, como algo fundamental.
Se o processo ibero-americano decidir basear-se em outra coisa que não a democracia se prestará para os liberticidas.
Não estamos aqui para guiar ou traçar um denominador comum entre a ditadura e a democracia. A única integração válida é aquela entre nações livres. Não a integração entre os cartéis da droga.
Ao permitir a presença dessa representação por parte de um regime ditatorial estamos expondo os demais países da nossa comunidade a um regime que sabemos, tem uma estreita simbiose com o crime organizado e todas as suas facetas e a corrupção internacional.
Por essa razão a tragédia venezuelana tornou-se um desafio para a segurança regional e mesmo global com o alto nível de desbordamento dessas atividades ilegais para o território dos países vizinhos, o que infelizmente já está acontecendo, também para os países iberios.
Queria lembrar que na semana passada, a Operação Enterprise, operação conjunta entre a Polícia Federal do Brasil e a Europol, apreendeu 12 milhões de euros em espécie em Portugal, produto de atividades relacionadas ao narcotráfico.
E no âmbito dessa operação já houve apreensões além do Brasil, na Colômbia, Panamá, Portugal, Espanha no total de 463 milhões de reais.
A delegação brasileira propõe duas propostas:
1) Que a conferência ibero-americana possa deter-se mais a fundo em ampliar e fortalecer estruturas de combate ao crime organizado, ilícitos internacionais ao tráfico de entorpecentes e de seres humanos
2) Que a conferência ibero-americana mantendo os compromissos assumidos, por exemplo, na declaração de 2010, em Mar del Plata, que diziam: que a democracia constitui um valor universal, faz parte do acervo da conferência desde a sua primeira reunião,que essa conferência passe a trabalhar com dedicação no sentido de construir, até a cúpula de 2021, um mecanismo eficaz de defesa da democracia que tenha um procedimento claro e preciso de aferição e decisão, bem como de sanções efetivas contra qualquer país membro que rompa com a ordem democrática.
Propomos igualmente que o escopo das secretarias abarque as violações sistemáticas às violação individuais e às liberades dos seres humanos.
Para concluir, é uma forte expectativa do Brasil que os demais países dessa conferência possam trabalhar conosco pela restauração democrática da Venezuela.»
Fuente: Brasil de Fato
Foto principal: Marcelo Camargo (Agência Brasil)
Traducción: Resumen Latinoamericano
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